Vivemos uma época de mudanças radicais em todos os aspectos da vida humana. Na família, sobretudo, as relações entre pais e filhos estão passando por momento muito difícil. Trata-se de uma verdadeira mutação. A família patriarcal cedeu lugar à família parental. A autoridade do pai diluiu-se. A autoridade parental (em que há igualdade entre pai e mãe) está com muita dificuldade de dar conta da educação dos filhos. Estamos num momento de passagem.

É fato conhecido que mais da metade das crianças que hoje chegam à escola apresenta algum distúrbio de comportamento. Nós todos, pais, educadores, num movimento quase espontâneo, pensamos logo em encaminhá-los para um especialista.
Nossa maneira de ver é diferente. Há anos trabalhamos com a análise de pais e não dos filhos. Os distúrbios apresentados pelos filhos, nós os consideramos sintomas dos problemas dos pais. Os sintomas dos filhos são causados, inconscientemente, por uma maneira de educar que entala o desenvolvimento psíquico deles. Os pais são os verdadeiros educadores dos filhos. Normalmente, são movidos pelas melhores intenções. Mas não existe possibilidade de ser pais e não transmitir problemas para os filhos.
Pelo próprio princípio da análise, nosso cuidado é não oferecer solução para os transtornos e, sim, ter certeza que os pais, elucidados pela análise, podem encontrar uma saída, uma resolução. Pelo mesmo princípio, importa-nos preservar a originalidade do casal, pois só a subjetividade dele pode gerar mudanças inconscientes, inventar atitudes e atos que consigam reordenar a criança. Há anos essa prática de análise tem comprovado sua eficácia.
Os mais diversos distúrbios sejam eles psíquicos ou de comportamento, como neuroses, e até psicoses, insônia, problemas de alimentação ou de higiene, problemas de relacionamento, os de concentração ou de hipermotividade, identidade sexual, mau uso da internet... enfim, tudo o que provoque sofrimento na família, quando os pais são verdadeiramente escutados, pode encontrar solução adequada.
Pensamos que precisamos tanto ter consciência clara dos problemas de nossa época, como necessitamos acreditar que, se vivemos nesse momento da História humana, somos convocados a dar conta de nossa missão de levar à frente a civilização e a cultura que garantem o humano. Não temos mais certezas, temos que ir à busca delas, temos que inventar caminhos. É nossa convicção que somente um pacto entre pais e escola, entre pais e sociedade, pode hoje encontrar soluções para os problemas de nossos filhos.
Durval Checchinato
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