Sociedade de Estudo Psicanalítico Contemporâneo

... Confiabilidade, comprometimento, contentamento do cliente, transparência, ajustamento, ética e valorização do profissional, estas são as propostas da SEPC. Atuando como Referencia de nobreza da Psicanálise.

"A aceitação de processos psíquicos inconscientes, o reconhecimento da doutrina da resistência e do recalcamento e a consideração da sexualidade e do complexo de Édipo são os conteúdos principais da Psicanálise e os fundamentos de sua teoria, e quem não estiver em condições de subscrever todos eles não deve figurar entre os Psicanalistas".

Sigmund Freud



quinta-feira, 1 de abril de 2010

O valor da educação afetiva


         Segundo a teoria psicanalítica, o ser humano é um subproduto das variadas relações que lhe sucedem desde seu nascimento e, segundo esta ótica analítica, as primitivas relações que marcam sua infância, são as mais significativas para formação de seu caráter.
          Os pais como agentes primários deste importante processo de montagem inter-pessoal, são os elementos mais importantes para que aja uma satisfatória adaptação do novo sujeito em formação. Em linguagem técnica dizemos que a criança precisará “internalizar de forma positiva” as imagens de seus pais, ou dizendo isso de outra forma, a vinculação fortemente afetiva que uma criança vivencia juntos aos seus pais lhe confere um forte senso de autoconfiança, assim, ao aprender confiar em seus pais, passa intimamente a confiar em si mesma.
          Ainda segundo a psicanálise, cada um dos pais influencia um aspecto importante da personalidade em formação; a mãe é o símbolo maior da vida afetiva, por isso, sua presença é vital para o equilíbrio emocional da criança; já o pai é o símbolo da relação que a criança deve ter com o mundo externo, o pai com sua presença afetiva é o elemento que dá acesso à lei, sua imagem é a representação da necessidade racional de se vincular a uma certa normatividade externa.
          Infelizmente, nossa vivência social é fortemente marcada pela dissolução familiar, cada vez mais mães solteiras são obrigadas à cumprir duplamente às funções materna e paterna. Logicamente, nem sempre o esforço feito pela mãe em suprir o modelo paterno dá resultado, a mesma por força de uma necessidade óbvia, acaba por se ausentar por muito tempo (visando sustentar economicamente a família), essa lacuna relacional quando muito prolongada traz conseqüências extremamente negativas.
          Uma pesquisa recente, divulgada pela Fundação Casa (antiga FEBEN), revela as conseqüências funestas da desestruturação familiar, bem como, insinuar claramente que há uma forte ligação entre a ausência da imagem paterna e o ingresso precoce na criminalidade. A referida pesquisa revela que em São Paulo, 51% dos menores infratores internados nas unidades da Fundação Casa não conviviam com o pai, também, a mesma pesquisa estabelece estatisticamente que a grande maioria dos menores infratores são do sexo masculino.
          No caso das meninas, um levantamento feito pela Casa do Adolescente, um órgão governamental que oferece orientação sexual aos jovens, estima que cerca de 40% das garotas atendidas pelo projeto, foram abandonadas pelos parceiros antes do nascimento do bebê e, grande parte dos que permaneceram juntos com as parceiras mais tempo, nem sequer visitaram a criança na maternidade.
          Lamentavelmente, as famílias mais pobres são as mais atingidas e, a desestruturação em série acaba por perpetuar a ausência do modelo paterno, desembocando enfim, na delinqüência infantil e na criminalidade.
          No entanto, o estudo citado indica que é cada vez maior a participação de jovens da classe média envolvidos com a marginalidade, isso justifica a idéia que diz que não é propriamente a pobreza o elemento principal na delinqüência juvenil (embora seja incontestável que tal situação sócio-econômica é um elemento agravante) e, sim, a carência afetiva sentida nessa fase tão importante para montagem pessoal.
          O próprio estilo capitalista é o maior fomentador da crônica desestruturação familiar contemporânea. É cada vez mais comum recebermos em nossos consultórios pais desatentos (para não dizer apáticos) em referência a educação familiar, os mesmos estão muito interessados em sua “realização profissional”; querem uma desejável estabilidade econômica para consumirem todas as mercadorias oferecidas pelo sistema, essa ânsia por um reluzente sucesso econômico, acaba por enfraquecer às relações afetivas, por fim, as famílias ficam cada vez mais ricas e estáveis financeiramente e, contraditoriamente, cada vez mais pobres e vazias afetivamente.
          É verdade que às vezes a separação é inevitável, porém, o fato dos pais não conviverem mais juntos não justifica a ausência afetiva de qualquer um dos dois (ou pior, os dois) na educação familiar. O processo de socialização primária, realizado no âmbito familiar é crucial para estabelecer as bases normais da personalidade considerada estável e produtiva.
          Escolher educar afetivamente nossos filhos se configura muitas vezes como um contra-senso frente à lógica vigente, afinal, ao escolher devotar mais tempo e afetos aos que nos são caros, muitas vezes perdemos “dinheiro”, ou valiosas oportunidades de ascensão profissional, porém, toda escolha existencial implica em certa “perda”, o que devemos mensurar é o que consideramos subjetivamente de maior valor.Entender bem a vivência infantil e dar suporte afetivo a criança, se configura certamente na melhor forma de ler no presente, o futuro da humanidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário