O ser humano nasce, cresce, desenvolve-se, torna-se
adulto, adquire experiência, fica senil e por fim morre. Na evolução dessa sua
existência de movimento circular, ele passa por três etapas diferentes : a do
instinto, a do intelecto e a do espírito. Lamentavelmente, a grande maioria dos
seres humanos não desenvolve essas três fases a contento, ficando quase sempre
cativa nos laços da fase do instinto.
Assim, a primeira etapa encontra-o remoendo suas
deficiências da infância, dos erros e defeitos da educação que teve, e com isso
afloram-se consequências cotidianas: vive emocionalmente tenso, preocupando-se
com ninharias que não resolvem nada; adquire temores injustificados, com fatos
e situações que nem aconteceram, mas tortura-se mentalmente por antecipação;
irrita-se facilmente, com problemas de somenos importância, e com isso atraindo
para si, conflitos mentais, complexos, atitudes intolerantes etc.
Nessa fase ele acredita piamente, que sua
felicidade consiste exclusivamente na posse de bens materiais, na fama e na
popularidade. Julgando-se dono de seu destino, por acreditar que a força do
poder econômico, aliada à influência política, tudo pode, e na
interpessoalidade de suas relações, famílias são jogadas na miséria, na dor, no
desespero; pessoas suicidam-se, roubam, matam, mentem umas em relação às
outras, porque sempre há alguém com mais poderio que subjuga, explora e suga seu
semelhante.
Na fase do intelecto, preocupações de outra ordem
começam a inquietá-lo. O êxito alcançado, e os bens materiais que sempre
almejou, já não mais lhe satisfazem, e tem princípio a procura de algo que não
sabe definir o que seja. Ao descobrir que a fama e a aquisição de bens
materiais, não lhe trouxeram aquela paz espiritual que almejava, tem início a
indagação de perguntas e exigindo respostas que nunca virão, e com isso, sofre.
Se a pessoa que chegou nessa fase do intelecto, não
possuir boa formação moral, e tampouco rígidos princípios éticos, nasce então,
mais um cidadão corrupto; se tiver tendências políticas, desequilibrará a nação
pelo desemprego, pela recessão e pela inflação; se for militar, certamente
tornar-se-á um déspota ou ditador. Esse tipo de pessoas perdeu o verdadeiro
significado da vida, pois tudo o que lhes interessa é atingir seus objetivos
egoísticos, pouco importando o preço a pagar.
Por outro lado, se a pessoa tiver caráter norteado
por princípios ético-morais, fatalmente enveredará para o caminho da terceira
fase, a espiritual, cuja trajetória é a meta última de toda a criatura humana
na face da terra. Começa para ela então, um novo despertar, o da consciência,
que lhe permite atingir a percepção exata da realidade das coisas, ou seja,
aprende a conhecer a si mesmo.
Essa percepção vai um pouco além daquela
compreensão vulgar dos sentidos, quando ela se satisfaz com tudo aquilo que
pode ser tocado, visto, degustado, ouvido ou aspirado (como já dizia
Saint-Exupéry: o essencial é invisível aos olhos ).
Essa percepção espiritual nada tem a ver com sentimentos de religiosidade,
sendo excluídas todas e quaisquer manifestações de credos religiosos,
independente do nome que tenham.
No cômputo das ações, não haverá igreja, religião,
seita, ordem ou tempo algum que resgatará os liames negativos criados pelo ser
humano, a não ser, que ele próprio o faça, pela lei do retorno do resgate. É
nisso que reside a infalível Justiça Divina. Despertar espiritualmente, não
significa praticar o culto, arrepender-se dos erros, para tornar a cometê-los
novamente, num círculo vicioso que parece nunca acabar.
Despertam espiritualmente, todas aquelas criaturas
humanas: isentas de egoísmo; desprendidas de bens materiais; que mantêm o foco
de seus pensamentos puros e limpos; que não cobiçam bens alheios; que não usam
as palavras além do necessário; que ajudam seus semelhantes, sem segundas
intenções; e que não prejudicam seus corpos com excesso alimentar ou alcoólico.
Refere a sabedoria popular, que a caminhada
espiritual é um verdadeiro calvário. No fundo, não é. Nós é que nos acomodamos
com a caminhada fácil da humanidade libertina, por isso, não podemos e nem
devemos nos queixar do inferno astral que enfrentamos diariamente, nessa
viciada primeira fase do instinto.
Richard Zajaczkowski